Relativismo e Democracia

Parece que o conceito de Democracia no Ocidente está realmente fadado a cair em total descrédito, por um certo cinismo prático adotado pelas nações ricas com relação à outras partes do planeta.
É mais ou menos assim: democracia é ótima desde que seja a nosso favor. Os maiores exemplos disso são os EUA e seus aliados incondicionais no front do que chamariamos de democracias de farda. São aquelas democracias que fazem da intervenção militar o braço legitimador dos interesses econômicos e culturais de suas "iluminadas" sociedades.
A intervenção no Iraque, na política do Oriente Médio e o combate a qualquer regime que ouse defender a autodeterminação dos povos, são evidências desse modelo de patrola imperialista.
O incômodo de Washington com o avanço das forças de esquerda ou mesmo de movimentos nacionalistas revela a enorme contradição e o relativismo do conceito de Democracia, como regime em que a vontade da maioria se torna o alicerce de governos legítimos.
O caso mais recente é o das eleições palestinas. A vitória do Hamas incomodou por demais os mentores da política externa norte-americana. A reação diante da inesperada derrota de um grupo que era mantido sob controle econômico e que não tinha força suficiente para impor uma agenda proativa no conflito palestino-israelense, pegou os EUA e a União Européia de calças curtas.
Agora a questão é mais complexa. O Hamas defende a autonomia do Estado Palestino e a saida imediata de Israel das terras ocupadas. Inclusive toma por ponto de partida a configuração de um Estado palestino dentro dos limites de antes da Guerra de 1967, conforme a própria ONU reconhece e já recomendou reiteradas vezes que Israel respeite.
Diante disso a postura dos EUA e da União Européia é a de domesticar o Hamas. A ameaça de suspender o apoio financeiro essencial para a manutenção de uma estrutura mínima da Autoridade palestina constitui expressão cínica e contraditória. Usam o argumento econômico como forma de manter seus interesses na região. Essa postura só pode piorar a situação.
Daí a pergunta: o que é democracia para o Ocidente? É ou não um valor absoluto, conforme juram de pé juntos seus líderes? Se não é - e a realidade está ai para provar - seria melhor deixar cair a máscara e assumir que não existe nenhum interesse maior do que o da continuidade da tutela externa sobre o Oriente Médio. A Democracia é aceitável enquanto estratégia de legitimação de interesses dos países ricos. Mas ela é relativa se confere poder e legitimidade a quem contrarie o humor dos acólitos do Presidente Bush.

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