Acolher é testemunho e benção


 

Aqui no Canadá celebramos, sábado, o Canada Day. Trata-se da festa nacional que celebra a fundação da Confederação das colônias Britânicas sob o nome de Canadá, em 1867. Um país que é reconhecido internacionalmente por suas belezas naturais, por sua extensão e, principalmente por ser um dos países com política exemplar de acolhimento a migrantes e refugiados.

O evangelho de hoje, uma das mais curtas perícopes deste tempo litúrgico, nos fala uma palavra reveladora acerca da hospitalidade quando Jesus a destaca como benção para quem acolhe e conforto para quem é acolhido. Esta palavra soa como um bálsamo, depois de sucessivas advertências de que os caminhos da missão são realmente árduos.

Nesse sentido, desenvolvi a ideia de nos tornarmos autênticas “casas de pão”, como Belém é identificada. O lugar onde nasceu o Pão divino, que alimenta o povo de Deus e sacia a fome dos necessitados. Cada vez que nos reunimos, proclamamos na Eucaristia que a mesa está servida e é para todas as pessoas, sem distinção. Nessa mesa pode chegar todo mundo e dela partem saciadas todas as pessoas. 

Recentemente, temos assistido sérios retrocessos em relação às políticas afirmativas tanto de inclusão racial quanto inclusão da comunidade LGBT. Recentes decisões da Suprema Corte dos EUA ligaram o sinal de alerta com relação ao avanço de uma onda conservadora que faz da liberdade de pensamento uma cláusula absoluta mesmo que essa liberdade atente contra a dignidade e a justiça. 

No Brasil tivemos vivemos interrupções injustificadas nas políticas afirmativas nos últimos 7 anos em razão de uma aliança entre forças conservadoras - algumas delas com forte acento religioso - que justificaram o aumento da exclusão social, da violência de gênero e da violência racial. A isso se soma a criminosa destruição do meio ambiente!

Tudo isso vai na contramão de uma Igreja e uma sociedade acolhedora. É preciso reverter este vetor da desigualdade. Jesus nos fala que quem acolhe um discípulo ou discípula dele acolhe o Pai que o enviou. Até mesmo um copo d’água - algo tão simples - pode significar muito para quem é acolhido. 

Tenho visto muitas das igrejas aqui no Canadá com programas de acolhimento de famílias de refugiados e há uma ação deliberada e institucional para a efetivação desses acolhimentos. Certamente um belo exemplo a ser imitado.

O critério para ser ovelha ao invés de cabra no juízo definitivo não é correção doutrinária mas a prática do acolhimento em relação às necessidades das pessoas que estão à nossa volta. Possa Deus nos ajudar a desenvolver a hospitalidade com amor, transformando nossas comunidades em verdadeiras casas de pão!

Francisco 

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