Não deixaremos a Democracia morrer

Um triste espetáculo de cinismo está em curso em nossa conturbada República. O Estado de Direito, de forma incompreensível para quem entende o que é sistema político, foi desrespeitado pelo Congresso Nacional, com a conivência do Judiciário. 

O governo interino de Temer expõe os sinais explícitos de que o que sempre esteve em jogo não foi a prática de crime pela Presidenta mas sim o ódio porque as urnas sempre lhe negaram nos últimos quatro pleitos a oportunidade de voltar à gestão do Estado. E voltar para fazer o Brasil andar para trás. 

A artificialíssima cultura do combate à corrupção, construída intencionalmente pela mídia e que recebeu a simpatia de uma classe média com medo de perder privilégios, criou as condições que sedimentaram a aliança dos segmentos conservadores para inviabilizar o governo de Dilma. Faltava a legitimação institucional civil, já que os militares não estavam dispostos a nova aventura de controle político impopular. O Congresso e o Judiciário não decepcionaram os golpistas e ofereceram o carimbo oficial. 

Se alguém - mesmo bem intencionado e capturado pelos editoriais golpistas da grande mídia - pensou que estava apostando numa mudança, deve estar agora em vias de ir ao divã.  Deve estar se perguntando porque a sociedade internacional olha para os golpistas com tanta desconfiança, como no tempo da Ditadura militar. Deve estar se perguntando porque tantos indiciados e réus por corrupção posam para a fotografia oficial deste governo interino.

Em apenas 24 horas de governo interino, Temer conseguiu mostrar o que teremos pela frente. Corruptos investigados e réus em processos penais e eleitorais são os que ocupam ministérios e secretarias nacionais. Nenhuma mulher em nível de ministério. A Controladoria Geral da União extinta. Ministério da Cultura extinto. O que temos na tela é um filme de questionável qualidade. Um governo sem legitimidade, sem apoio internacional e coberto de suspeitas de atender somente os interesses das elites não tem futuro.

Temer pagará caro por sua traição e não escapará à pressão da sociedade brasileira. Os movimentos sociais, as forças progressistas, artistas, o movimento estudantil, os setores progressistas das Igrejas e religiões, as mulheres, os movimentos LBGTI estão mobilizados para recuperar a nossa democracia. A rua é o lugar do embate do projeto de sociedade voltado para as maiorias excluídas. A ocupação dos espaços físicos de poder institucional, de forma pacífica, ordenada e com claro objetivo de expor o processo de expropriação de nossos direitos é o caminho que se deve seguir. 

Não vamos deixar a Democracia morrer. Lutamos muito por ela e não deixaremos que nenhum direito conquistado seja perdido. É hora de mostrar que o Brasil não teme a luta por uma sociedade justa, baseada em princípios democráticos e do respeito às leis.

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