Um 31 que se repete tristemente travestido de institucionalidade




O Brasil vive hoje um terrivel momento de sua história recente. A democracia atingida de morte em 1964, criou forças e pela mobilização popular fez um longo caminho de volta à soberania do voto universal para todos os níveis políticos, eliminando assim a chaga de eleiçoes indiretas.

A recuperação da soberania popular, no entanto precisou ainda enfrentar os solavancos de crises políticas até que no inicio da década de 90 se passou a ter Presidentes eleitos diretamente pelo povo.

Mesmo assim, as elites mantiveram sua hegemonia legitimada pelas eleições até que pela primeira vez se elegeu um trabalhador para presidir o País, no ano de 2002. Depois de dois mandatos e com a mudança não ideal mas razoavelmente possível a transformação da pirâmide social começou a mudar.

Em 2010, depois de 78 anos de voto feminino, se elegeu a primeira mulher para a Presidencia da República, sinalizando para nossa sociedade patriarcal que o país avançava para mais mudanças. O governo da Presidenta Dilma continuou ainda mais o processo de transformação da sociedade brasileira e. mesmo, com as contradições inerentes à governabilidade política dividida com as elites conservadoras, avanços prosseguiam.

A reeleição de Dilma foi a gota d`água para quem andava arrepiado com mudanças nada desejadas pelas elites. A exposição de políticos do governo e da oposição com as investigações realizadas com absoluta autonomia pela Polícia, pelo Ministério Público e pela Justiça desagradou a quem antes andava sob as sombras da impunidade. A eleição de um Congresso ainda mais conservador ativou o gatilho de um processo de impeachment baseado em motivações políticas.

Não preciso lembrar aqui o triste e vergonhoso espetáculo que se sucedeu desde a posse da Presidenta em seu segundo mandato. O desfecho final aconteceu hoje, 31 (outro 31) com a decisão pelo afastamento e, pasmem, com a manutenção dos direitos políticos da Presidenta.

Ao contrário de ser um gesto de conciliação como se tentou caracterizar, o afastamento com esta dubiedade decisória é um atestado de papel passado de como o que as elites queriam exatamente uma única coisa: tirar do poder o incômodo de um governo respaldado pela maioria.

Se alguém duvidava da ruptura institucional, agora ficou clara a intenção de remover a Presidenta pelo conjunto da obra. 

Assume agora um governo que já demonstrou sua incapacidade programática, seu machismo e seu racismo social. Tudo dentro de uma legalidade formal que reproduz racismo,  machismo,  entreguismo e  impunidade. 

Como cristãos e cristãs, seguidores do movimento de Jesus nos resta resistir à luz dos valores que nos revelam claramente que o compromisso político do cristão (que não deve ter necessariamente caráter partidário) deve ser com os pobres, com os excluídos e com aqueles que são vítimas da violência econômica e social. Uma sociedade será tanto mais madura, razoável e feliz se, em sua estrutura, não sacraliza a exclusão, a pobreza e a exploração. 

O futuro do Brasil continua em nossas mãos. O futuro de nossa sociedade nos parâmtros de justiça social dependerá de nosso testemunho. Não somente nosso (como Igreja cristã) mas de todas as pessoas que tem o compromisso da diaconia e da luta para a superação de toda forma de exclusão. 


Oro pelo Brasil, pelo seu povo e por nós mesmos a fim de que jamais abdiquemos de lutar pelos valores que Jesus nos deixou como testamento a ser vivido. Seguimos adiante, com amor e fé e com oração.  E que a sábia História julgue aquele(a)s que tem o discurso da democracia nos lábios mas seus corações testemunham obscurantismo!

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