Voltar atrás exige coragem

 A parábola dos dois filhos, apresentada pelo Evangelho desse domingo, nos trouxe importante provocação a respeito da capacidade de reavaliar decisões tomadas sem a devida reflexão. Seja no caso do primeiro filho, seja na caso do segundo. Suas respostas imediatas, irrefletidas, não foram confirmadas. Pelo menos, o primeiro teve tempo de corrigir.

Evidente que a intenção catequética de Jesus era provocar a reflexão das lideranças religiosas a respeito de como a sua ortodoxia carecia de uma autentica ortopraxia. Na verdade, a provocação de Jesus tinha por alvo expor essa contradição diante da forma como essas lideranças haviam tratado o maior dos profetas. Diante do "carteiraço" exigido pelos líderes judaicos, Jesus os colocou em uma sinuca de bico e na parábola, a título de arremate final, ele os faz confessar  sua desobediência a Deus.

Vivemos hoje em uma sociedade que tem um nível de problematização muito distinto daquele do tempo de Jesus em uma Palestina ocupada pelo Império e onde o modo de produção era quase que totalmente rural. Nos dias atuais, as respostas para as perguntas - em qualquer campo - são demandadas em uma velocidade não analógica. E aí mora o perigo. As respostas referentes ao Reinado de Deus não podem ser oferecidas sem a devida reflexão.

O dois filhos da parábola deram respostas sem a devida análise. Foram respostas dadas no modo automático. Um deles porém teve tempo de refletir. Teve tempo de fazer uma análise, de ponderar de si para si e mudou de atitude. Mudou de ideia. Acabou fazendo o que seu pai ordenara. 

Muitas vezes precisamos ter a coragem de mudar, de voltar atrás, de refazer caminhos. Nosso Deus tem paciência para esperar que refaçamos nossos caminhos. A cada celebração em nossa tradição anglicana existe esse momento de "emenda do que somos". Esse momento que nos aproxima do publicano pecador que confessa a sua incapacidade de fazer a vontade de Deus. 

E o resultado desse momento de verdade consigo mesmo e com Deus é surpreendente. Gera uma alegria indizível de quem se sente aceito e perdoado. A parábola não se preocupa em falar do que aconteceu depois dessa Metanoia. Ela deixa que cada um use a imaginação. Como a maioria das parábolas, ela é mais provocativa que conclusiva. Mas a nossa imaginação nos diz que o Pai ficou feliz e surpreso com a mudança de atitude. 

Meu irmão e minha irmã, você já se deparou com uma situação na qual você teve que voltar atrás?  Essa volta te trouxe a benção do perdão e você realizou finalmente a vontade de Deus? Eu espero que assim tenha sido.

 

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