Segundo round para derrotar o fascismo

O fascismo sempre está a espreita e comete erro crasso quem pensa que ele morreu. A recente campanha para a Presidência na Argentina nos revelou o quanto a extrema direita está querendo se reestruturar na AL para contrapor a derrota no Brasil e em outros vizinhos.

E a estratégia está bem clara: aproveita o momento de grave crise econômica que abala a confiança nos políticos, dando lugar ao discurso da antipolítica, do combate à corrupção e a redução do tamanho de Estado. Para completar o cenário sempre se vale de uma figura geralmente afeita a trabalhar chavões, curtos, sem muita profundidade e que se autopromova como salvador da Pátria. 

Nada mais previsível mas também perigoso! O problema do fascismo e que ele trabalha categorias diferentes do discurso politico, privilegiando o espetáculo ao programa. Aliás o programa é exatamente o espetáculo alienante.

A experiencia da Europa, eleitoralmente hoje de corte direitista, salvo raras expressões, a experiencia de Trump nos Estados Unidos e a posterior vitória de Bolsonaro no Brasil apenas mostram o quanto o populismo é cadeia de transmissão do fascismo. 

O tripé populismo, valores pseudo-liberais e a redução do Estado conseguem atrair até mesmo setores da classe média esclarecida criando uma base política bastante robusta. Principalmente se os seguimentos populares estão desorganizados, com baixa consciência política. A classe media, sempre suscetível a variações da economia, tende a buscar refúgio em projetos que a mantenham afastada de tudo o que represente ameaça aos seus interesses. 

Isso me traz uma reflexão a respeito se a política não é arte de fazer com que as pessoas não sintam medo. Esse sentimento atávico da humanidade pode ser manifesto em conjunturas que condicionam votos em projetos e soluções que afastem o medo, o risco, a incerteza. 

Me recordo que a primeira campanha vitoriosa de Lula explorou o tema do "sem medo de ser feliz" e aí funcionou o toque de uma campanha que teve muito de medo, especialmente por parte de um segmento religioso evangélico-fundamentalista. 

No caso argentino, funciona a estratégia do medo por conta da crise econômica séria pela qual passa o país. Milei capitaneou no primeiro turno muitos votos dos setores empobrecidos com o discurso do combate à corrupção, redução de gastos públicos e uma Argentina colada a uma moeda forte e que fique livre de socialistas e comunistas. Exatamente um receituário que logo ali na frente poderá levar o país a um abismo inimaginável. Pelo menos, a estratégia do medo acabou dando um gás ao peronismo, pois se trabalhou nos últimos dias a ideia do "salto para o abismo" dando uma sacudida em segmentos que estavam embarcando no canto de sereia da extrema direita. 

O taxímetro foi zerado e agora a disputa será definitiva no segundo turno. Massa e Milei vão ter que construir suas "arguições finais" e a democracia argentina vai sustentar a respiração até que o fascismo seja derrotado. A escolha está nas mãos dos eleitores. Que o exemplo brasileiro inspire los hermanos!

A América Latina não aguenta um segundo Bolsonaro. 

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