Cosme e Damião: Infância, Proteção e Direitos

 



Hoje se celebra uma festa sincrética, muito popular na região nordeste, que evoca dois santos muito populares: Cosme e Damião. Segundo a tradição da Igreja eles eram gêmeos e demonstraram a sua fé, ajudando enfermos e pessoas descapacitadas sem receber nada em troca, tornando-se tão populares que incomodaram as autoridades romanas e isso os levou à e ao martírio em torno do ano 300, sob o imperador Diocleciano.

A história  de seu martírio é dramatizada em tentativas - afirmadas pela tradição - que envolveram fogueira, apedrejamento (estas duas formas milagrosamente mal sucedidas) e finalmente decapitação. Desde então, tornaram-se santos muito populares na tradição da Igreja, sempre vinculados ao tema da saúde. A vinculação com as crianças tem uma matriz africana, onde o seu culto, segundo historiadores, iniciou em torno do século quinto.

No Brasil, a primeira referencia da celebração dos santos é encontrada em Igarassu, Pernambuco, em torno de 1530. O sincretismo religioso fortemente desenvolvido pelos negros e negras da diáspora, por razões de sobrevivência, vai contribuir ainda mais para a popularização da festa, vez que eles são associados aos orixás (Ibejis) e às entidades (Erês). 

Os Ibejis e os Erês sempre estão ligados à inocência, à pureza e aos trejeitos alegres de crianças. As festas dos santos sempre evocam o colorido, a festança e aos doces. A rápida secularização de nossa sociedade, tem no entanto impactado de forma negativa os folguedos populares, afetando a intensidade destas celebrações. 

A festa de Cosme e Damião precisa ser resgatada por duas importantes razões. A primeira por se tratar de uma festa que reúne a riqueza do sincretismo e depois porque exalta a importância de se valorizar a infância. E nestes dois aspectos pode se transformar em ações revolucionárias: supera o fundamentalismo excludente e recoloca a criança num lugar que a sociedade capitalista não reconhece como sujeito e sim como consumidor.

Numa sociedade que mata nossas crianças - especialmente as pretas e pobres - é muito importante resgatar o lugar das crianças como centro e não como periferia. As crianças são livres e não sentem preconceito - nós adultos somos os que as conduzimos para as narrativas excludentes construídas ao bel prazer de nossos próprios interesses.  Viva São Cosme e Damião. Viva a infância. Por mais Direitos e proteção para as nossas crianças!  

Francisco Silva   

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