Um parlamento achincalhado



As cenas que foram transmitidas para todo o país sexta e sábado passados, quando da instalação da nova legislatura do Senado Federal, revelaram uma faceta nada honrosa de nosso parlamento.

Com toda honestidade, as turmas de pré-escola são muito mais organizadas e respeitosas que nossos ilustres senadores. Quando tive minhas primeiras aulas de OSPB (invenção da ditadura) aprendi que o Senado era a Casa da representação igualitária de todos os entes da Federação e o significado do seu nome era  por causa do perfil do seus membros: maduros, sensatos e moderados. Segundo esta "fábula", os senadores funcionariam como uma instancia de introspectiva reflexão para balancear a outra Casa, a Câmara dos Deputados, que representaria a jovialidade e o calor das demandas políticas do povo, cabendo ao Senado contrapor pedagogicamente o senso federativo.

Nada mais fora de ordem do que as cenas que assistimos neste fim de semana. Apequenaram o país diante do mundo. Ainda bem que as imagens exibidas pela TV Senado tem como audiência viva o público brasileiro; não se evita, porém, que a imprensa internacional transmita suas impressões sobre o espetáculo quase circense (o "quase" é em respeito à instituição que não tem culpa por seus representantes).

Se o processo foi confuso, com manipulação regimental, gritaria, golpes e até confisco de pastas (que por sinal foi o gesto mais tragicômico do espetáculo), o que dizer dos discursos? Talvez o mais cínico dos motes usados pelos ilustres senadores que resolveram provocar o STF foi o discurso da mudança e da renovação. Podem até estarem certos de mudança (muitos nomes novos) mas não de renovação. A prática política é a da velha política.

Outro mote muito usado foi o de ouvir as ruas. Esse mote padece já de envelhecimento precoce, pois desde 2013 ele é usado para significar o avanço de uma onda conservadora que resultou no desmonte do Estado Social brasileiro, na onda do golpismo descarado no impedimento da Dilma e na usurpação do Temer. O final desse processo todos nós sabemos: o retorno eleitoralmente legitimado do fascismo à moda tupiniquim.

Coisas para refletir. O novo Presidente do Senado é um sujeito político que já tem investigações contra ele, derrubando por terra a questão de que o "novo" Senado traz uma pauta anti-corrupção. O senador Davi é apoiado  pelo  Min da Casa Civil, já fartamente conhecido por seus deslizes de Caixa 2 e por ser lobbista do armamentismo. A relação entre eles é tamanha que a mulher de um trabalha no gabinete do outro, praticando assim nepotismo enviezado. Isto é o que eu chamo de atender o clamor das ruas!!

E, por último, uma consideração que é mais uma constatação: a esquerda neste país vai precisar se reinventar. Dividiu-se entre candidaturas que na verdade, não ofereciam alternativa nenhuma à prática política que vem sendo praticada ao longo da história política brasileira. Diante de tudo isso, o gesto radical de Jean Wyllys de se auto exilar foi talvez o fato mais novo da política brasileira nestas últimos dias. Seu gesto, para além de qualquer análise imediatista, foi um gesto de coragem, para não participar desse processo de achincalhamento ao qual o Parlamento Brasileiro está submetido desde há muito!




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