A vergonha da desigualdade



O ultimo relatório da OXFAM apontou dados que cada vez mais confirmam o crescimento da desigualdade entre a privilegiada camada de bilionários e a pobreza extrema no mundo. Já se sabe desde há muito tempo que a desigualdade entre os extremos sempre foi um desafio que motivou muitas intenções de algumas lideranças acostumadas a fazer de palanques eventos como o Fórum de Davos, ou até mesmo os famosos fóruns de elaboração dos inesquecíveis Objetivos do Milênio. 

Estes eventos criaram expectativas muito otimistas na audiência, mas seus resultados concretos não reelaboraram o mapa mundi das desigualdades.Trata-se do mesmo padrão que o Ocidente usa em relação aos seus standards políticos, econômicos e morais. O sistema capitalista se alimenta da exploração do meio ambiente, da força de trabalho e dos meios de produção. O lucro gerado por estas atividades acabam ficando na mão dos gerentes do sistema. Essa casta de gerentes e composta por políticos, empresários e banqueiros. Os primeiros criam as leis que facilitam a exploração. Os segundos são os empreendedores que, raramente se expõem a risco do negócio e os banqueiros são os que menos trabalham mas garantem a rentabilidade do capital. 

Neste contexto, o Estado tem seu papel reduzido a um mero gestor do capitalismo, sendo-lhe permitido apenas algumas concessões no plano social para aliviar a tensão entre as classes, sempre regulado pela democracia representativa e censitária. A nova face do Capitalismo marca-se pela sustentação da tese do chamado Estado mínimo, defendendo a não intervenção em políticas publicas e de preferência  com superavit, se assemelhando assim a uma empresa que precisa demonstrar eficiência. Nada mais contraditório, pois a eficiência de um Estado se mede na proporção dos resultados de suas intervenções para o benefício da maioria da sociedade a qual ele representa.

 A tese de que o mercado se regula autonomamente se constitui na grande balela defendida exatamente por quem se beneficia dele. Em um trabalho que apresentei para a agência Christian Aid sobre justiça tributária há anos atrás, identifiquei o quanto políticas fiscais podem se tornar reais instrumentos de redução de desigualdades. Mas para tal, o processo político precisa ser descontaminado do poder econômico. 

Se não se considerar estas importantes variáveis de enfrentamento da concentração capitalista, estaremos cruzando o Aqueronte rumo à barbárie, só sem o guia Virgílio, que nos manteria próximos da razão e da poesia. Talvez seja hora de uma virada de vetor realmente forte para que se possa sonhar com um  "outro mundo possível"- lembram de 20 anos atrás, nos processos dos Fóruns Sociais Mundiais? 

O crescimento da direita no mundo, a possibilidade de retorno de Trump ao poder nos Estados Unidos e as convulsões sociais e conflitos na América Latina, se apresentam como desafios que precisarão ser enfrentados com firmeza. O neocolonialismo, alimentado pelo sionismo e pela tentativa de uma nova Guerra Fria (recauchutada com cores que lembra mais as variações de tons cinzas..) precisarão de uma nova coalizão para imprimir um modelo econômico descentralizado - BRICS? - Não temos certeza disso, até porque existem dentro do novo bloco desigualdades gritantes! Mas pode ser um caminho!

O que fica liquido e certo pra nós é a urgência de se acabar com essa vergonha de termos bilionários cada vez mais ricos e controlando a economia e a mídia do mundo e, ao mesmo tempo, pessoas que vivem as migalhas que caem da mesa farta dos privilegiados.   Mas a reversão desse processo começará quando os gastos per capita do mundo com armas e guerra começar a cair na direta proporção dos gastos com comida, casa e cultura...

Francisco Silva

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