Uma visão da Páscoa antecipada


Subir pra adorar ao Transfigurado.

A comunidade de Mateus, na qual o relato da Transfiguração se apresenta hoje revela uma comunidade que estava vivendo uma difícil conjuntura de perseguição e sofrimento que estava a minar a sua confiança no projeto do movimento de Jesus. Como comunidade oriunda da tradição judaica, tinha bem claro em seu imaginário a compreensão de que a montanha era o lugar no qual Deus entregou a Lei e o subir sempre evocava encontro com Ele no monte da paz, em Jerusalém, no Templo. Como agora o Templo e a cidade estavam destruído pelos romanos, era hora de buscar um novo lugar de adoração e de encontro com Jesus transfigurado, para renovar a esperança. 

Subir para compreender a natureza do Transfigurado 

A pericope do Evangelho de hoje está situada exatamente depois da crua verdade exposta por Jesus a respeito do custo do seguimento a ele. Foi um momento de verdade que deve ter feito muita gente desistir. Exatamente por isso que Jesus sobe ao monte Tabor e se faz acompanhar dos três mais íntimos discípulos, para revelar-se como nunca, numa perfeita conjunção e síntese entre a Lei e a Profecia, plenamente cumprida na sua vida e ministério. Aqui se exerce a pedagogia nos mesmos moldes daquela que foi aplicada no caminho de Emaús. A Lei foi o propósito manifesto no Monte Sinai como elemento fundante da nova sociedade desejada por Deus para o seu povo. Moisés aparece como testemunha desse esforço - que se mostrou insuficiente para alcançar o propósito desejado. Elias aparece aqui como testemunho da Profecia que buscou renovar a aliança chamando a atenção para corrigir os desvios da monarquia e da profissionalização do culto. Jesus é, portanto aquele que veio cumprir a vontade de Deus e resgatar a humanidade definitivamente. Uma espécie de spoiler que surtiu efeito, já que os discípulos não queriam mais abandonar a experiência. Viram a glória do Transfigurado.

Descer para viver a concretude da missão.

Toda a experiência da Transfiguração tem um propósito pedagógico. Ele anima a comunidade para continuar a missão. Observem que a descida do monte vai reencontrar o povo  e seus problemas concretos. Problemas que não foram pausados pelo evento da Transfiguração. A subida ao monte foi um aperitivo de como o Reino significa plenitude de luz diante da qual tudo fica exposto, onde nada permanece oculto - inclusive a desfiguração de nossa sociedade. 

É muito significativo que na perspectiva da comunidade de Mateus, o primeiro milagre pós Transfiguração acontece exatamente com um jovem epilético - lunático em algumas traduções. Ou seja, uma pessoa que se desfigura e perde a noção das coisas durante a sua crise. Somos chamados a termos fé, a orarmos para poder vencer a desfiguração.

Meu irmão e minha irmã, você está vacilante na sua fé? Não se surpreenda, você não está sozinho. A comunidade do Evangelho de Mateus estava assim também. Foi para atender essa situação que se escreveu o Evangelho. A Transfiguração serve exatamente para você se certificar que Jesus é a manifestação gloriosa de uma ordem plenamente iluminada que expõe a vaidade do mundo, vence a injustiça e cura toda enfermidade. A Lei e os profetas apontam para o transfigurado. Desçamos com ele para a concretude da vida, para realizar a sua vontade! 

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