Lula X Morales: um teste da Política Externa brasileira

A estatização dos recursos naturais na Bolivia era uma crônica anunciada desde que Evo Morales conquistou a Presidência através de uma acachapante vitória. A questão era quando ele iria agir. Eleito sobre uma pauta de reivindicações nacionalistas de uma nação marcada pela expropriação de seus recursos naturais, sem nenhuma contrapartida social, responsável pelos maiores índices de pobreza da América do Sul, Morales precisava de um gesto público de soberania.
Sobrou para a Petrobrás. E para o Governo Lula. O desfecho desse incidente não será imediato. Para muitos que esperavam medidas retaliatórias do Governo brasileiro o episódio promete ser longo e amplamente negociado. Lula não optará pelo confronto, pois sabe que esse é um campo minado.
Ao invés, buscará construir uma saída política conjugada com outros aliados no continente. Afinal, Morales precisa do apoio de aliados políticos como Chavez, Kirchner e o próprio Lula, de quem recebeu efusivo apoio.Nenhuma ação unilateral tem força suficiente para prosperar, porque a realidade do continente hoje não permite que os governos mais próximos ideologicamente prescindam de retaguarda geopolítica. Mesmo com diferenças, esses governos precisam criar um pacto estratégico sem o que a esquerda no continente não avançará.
A grande questão para Lula é como essa negociação vai terminar. O decreto de expropriação estabelece um prazo de 180 dias para a efetiva definição do "fica" ou do "vai embora". Enquanto isso a palavra é negociar, pois Lula sabe que o ato do Governo boliviano é um ato de soberania, mesmo questionada a sua pertinência econômica.
Ganhar tempo parece ser a especialidade do Presidente. Só que poderá ser acusado pelos setores empresariais brasileiros de não tratar com a veemência necessária os interesses econômicos do Brasil. Isso pode se tornar um tema incômodo de campanha. Se Lula não conseguir o apoio de outras lideranças no continente para a alteração do decreto, mesmo que em bases gradualistas, com certeza tratará de convencer a Petrobrás a bater em retirada. Ou então poderá optar por uma mediação jurídica internacional. Eis aí o grande teste da diplomacia do Governo Lula. Vamos ver como se desenrola essa trama.

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