Cadê a humanidade que existia aqui?

Com essa pergunta eu inicio um desabafo que precisa ser expresso antes que se transforme em um veneno mortal contra minha saúde emocional.

Estamos em um país onde já se perdeu há muito a vergonha. Parece que os olhos das pessoas estão cheios de escamas, como se fora uma mortal pandemia que parece estar se alastrando sem controle e muito mais mortal do que a do Covid-19, incluindo as novas cepas. Quem leu a obra Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago pode entender um pouco sobre o que eu exporei neste pequeno desabafo.

Fiquei estarrecido com uma série de comentários xenófobos, insensíveis e insustentáveis do ponto de vista civilizatório contra a vinda de pacientes de Manaus para serem tratados aqui em Santa Maria. Como se sabe, o colapso do sistema de saúde na capital do Amazonas, tem exigido a transferência de pacientes para outros estados, como forma de garantir a luta pela vida dessas pessoas, cujas vidas são preciosas a Deus tanto quanto todas as outras.

Os comentários publicados desavergonhadamente por não poucas pessoas contra este gesto humanitário revelam uma insensibilidade digna de veemente condenação. Primeiro, que a saúde é um direito universal. Portanto, apesar do combalido e desprestigiado sistema universal de saúde do Brasil, ele ainda oferece o direito de que pessoas que estejam em risco em outras cidades possam, em havendo vagas, ser atendidas dignamente. Em situações de emergência e pandemia, o sistema oportuniza isso. E damos graças a Deus porque este dispositivo pode salvar muitas vidas. E por isso é importante a sociedade brasileira lutar pela preservação e financiamento da saúde pública.

Mas o que mais me chama a atenção é que algumas dessas vozes que externam este ódio contra a vinda dos amazonenses para Santa Maria, são de pessoas "de bem", que se declaram cristãs e de posses. Ou seja, não são quem depende de sistema público de saúde. São pessoas dominadas por um regionalismo tosco somado a um ideologia ultra conservadora e apoiadoras de um governo genocida. 

Isso é apenas a explosão na ponta do sistema do que está acontecendo na super-estrutra de nossa sociedade: a ascensão de pessoas que perderam o senso de humanidade, corruptas, egoístas e apoiadoras de um projeto de destruição sistemática do tecido emocional que nos deveria unir.  

Certamente este tempo tenebroso haverá de passar, mas deixará um lastro de destruição que custará muito ser refeito. Não apenas temos uma situação de enfrentamento de uma pandemia, mas também de um processo de desumanização como nunca vimos antes. Por isso cabe ecoar a frase de Saramago em sua obra: “Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, façamos tudo, ao menos, para não viver inteiramente como animais”. Esta é a frase mais aplicável aos dias atuais.

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