João: mais um grito de uma raça que clama por justiça!


"Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade"!
Elisa Lucinda

O racismo entranhado na cultura brasileira fez mais uma vítima na noite de ontem. Dois seguranças do Carrefour localizado no Passo D`Areia, Porto Alegre, espancaram João Alberto Silveira Freitas, causando-lhe a morte no estacionamento da loja.

Não se trata de um caso isolado. O próprio Carrefour já tem antecedentes de violência, inclusive um famoso caso de violência injustificada contra uma cadela, a Manchinha, que teve ampla repercussão em todo o país, despertando a mobilização de movimentos de defesa animal.

Casos como o de ontem não são raros no histórico dessa empresa. Pelo menos seis vezes, segundo levantamento do Brasil de Fato, a empresa esteve envolvida em situações de violações de direitos tanto com relação a consumidores quanto a funcionários. 

A morte de João não é fato isolado e revela a conivência da nossa cultura com o racismo, desconhecendo o fato de que ser negro ou negra neste país significa correr riscos permanentes de descaso, discriminação, presunção de culpa e violências. 

Hoje, se celebra o Dia da Consciência Negra e nada temos a comemorar. Após duas décadas de um esforço de construção de políticas afirmativas, nem sempre fáceis na sua implementação, assistimos vergonhosamente a reversão das mesmas e o recrudescimento da violência racial, alimentada por um governo que alimenta o preconceito racial e social, estimulado por grupos neo-fascistas e fundamentalistas.

É preciso dizer não ao racismo. É preciso honrar a memória dos negros e das negras que lutaram e lutam até hoje por igualdade, dignidade e visibilidade. É preciso dar um basta a repetidas situações de empresas que transformam seus seguranças em leões de chácara do capital, jogando-os contra os pretos e pobres. 

Vivemos num país onde a barbárie se tornou rotina. No país onde a classe associada à cor determina o valor das pessoas. Isso permeia todas as instituições e se constrói de maneira sutil na consciência coletiva, gerando opressão e violência. Chega de ser conivente com racistas! Chega de conivência com a impunidade. Até quando pessoas terão que morrer para que se dê um basta a toda esta violência.

Hoje, é um dia que só podemos fazer duas coisas: chorar de tristeza e nos mobilizarmos para protestar contra um Estado omisso, empresas racistas e uma sociedade que precisa ser sacudida de sua morbidez conivente com a violência! 

Que a luta de Zumbi e Dandara não se torne vã!


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