Tragédias que se sucedem: Kiss, Mariana e Brumadinho

Seis anos atrás, numa madrugada que poderia ser apenas mais uma em que nossa juventude curtiria a alegria de uma festa, celebrando a comunhão de idéias e projetos de vida, o pior aconteceu.

A madrugada que transformou a fisionomia da nossa cidade, de nossas famílias continua a exigir que a luz do amanhecer se faça presente e a justiça prevaleça.

E fica a sensação de que neste país o que menos importa são as vidas. Tragédia atrás de tragédia, vivemos a repetição de um padrão que concretamente não muda: de um lado os poderosos, com seus interesses, seus lucros; de outro, vidas que se perdem e se tornam curiosidades estatísticas.

Ontem, assistimos a mais uma tragédia ambiental que ainda está sendo avaliada e recém se apresenta como uma catástrofe que teve três anos atrás uma antecedente que matou vidas, envenenou rios e destruiu a esperança de vida digna para centenas de milhares de outras vidas.

Acidente? não. Crime mesmo. Muito se falou e muito se fala quando essas coisas acontecem. A mídia, os políticos, advogados, promotores, juízes, gente de Igrejas, Ongs, enfim, todas as distintas falas da sociedade se sucedem entre discursos de cobrança, de condenação, propugnando pela reparação da justiça e pela aplicação da justa e racional força das leis.

Esse ativo pleno de idéias boas e intenções elogiáveis encontram um sério obstáculo: a lentidão dos instrumentos que podem fazer a justiça valer e, o poder econômico de quem pode adiar ou fazer esquecer estas tragédias.

As famílias da tragédia de seis anos atrás em Santa Maria continuam fazendo uma peregrinação que dilapida cada vez mais a sua dignidade. As famílias da tragédia de Mariana, até agora, não conseguiram recuperar seu senso de dignidade e retomar sua vidas, porque do outro lado da mesa está uma Companhia poderosa que só aplica uma lógica sórdida, aquela da maximização de lucros. A mesma que já começa a construir o mesmo discurso para a tragédia de ontem em Brumadinho.

Por causa da tragédia da Kiss, se discutiu muito, se criou leis, se aprofundaram medidas de prevenção enquanto durou o tempo da visível comoção. Pelo que se sabe, aqui mesmo em Santa Maria, já se afrouxou a fiscalização e há denúncias de usuários de que as regras de segurança estão voltando a serem ignoradas. Espero em Deus que nunca mais se repita outra dor como a daquela madrugada de 27 de janeiro de 2013.

De uma coisa precisamos estar bem certos: sempre é certa a junção de duas coisas numa tragédia. Uma delas é o lucro que cega as pessoas que fazem dele o foco de seu negócio. A outra é a dor das vítimas e de suas famílias. O lucro se recupera, pois basta um bom projeto de redução de perdas ou um capital de giro para repor as coisas. Mas a dor não tem preço. Esta deixa um vazio que não pode jamais ser preenchido!

Meu abraço solidário, choroso e fraterno às famílias vítimas de todas estas infâmias. A dor é o elo entre vocês todas. Que nosso país aprenda a lidar responsavelmente e humanamente com a dor das vítimas!




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