A vergonha e o descaso com nossos povos indígenas não pode ser tolerada
Uma vez mais manifesto minha tristeza e indignação em como nosso governo e as elites brasileiras ( e nisto não há divergência entre ambos) tem tratado com absoluta indiferença a questão indígena brasileira.
Estamos roucos - sociedade civil, igrejas e organismos internacionais - de chamar a atenção para o estado de abandono e de omissão completa de políticas afirmativas para a defesa dos direitos de nossos povos ancestrais.
A mídia, patrocinada por amplos setores econômicos interessados em excluir os povos indígenas de suas reservas, assume um silêncio cúmplice com esta violência. O Congresso Nacional, em sua estratégia dominada pelos setores elitistas da sociedade, teima em retirar as garantias conquistadas no processo constituinte de 88. O judiciário, com uma lentidão paquidérmica, tem arrastado por anos decisões importantes que deixam à própria sorte e ao laisser faire o confronto desigual entre indígenas e grileiros, sempre fatais para os primeiros.
É preciso agir. Estaremos como Igreja representados nos eventos que terão lugar na primeira semana de outubro, no Mato Grosso do Sul, em torno da grave violência que as comunidades Guarani-Kaiowá naquele estado. Ali haverá audiência pública e visita à área de reserva dos indígenas no intuito de chamar a atenção da sociedade civil de que temos uma situação que pode eclodir a qualquer momento com graves consequências para a comunidade indígena. Estaremos ao lado de organismos como o CONIC, Koinonia, CEBI e CIMI, entre outros, levantando a nossa voz contra a injustiça e o descaso.
Diversas agressões da pistolagem de grileiros e senhores do agronegócio tem provocado vítimas e mortes sob o olhar complacente dos órgãos de segurança pública. Chega de omissão. Chega de intimidação. O Evangelho nos impõe o dever de defender a dignidade dos povos indígenas. Furtar-se a esse testemunho é se tornar conivente com a injustiça.
Francisco de Assis da Silva
Primaz do Brasil e Diocesano em Santa Maria
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