Pior que a corrupção é a falta de vontade da sociedade para evitá-la

Assisti ontem um rico debate entre juristas no programa Conversas Cruzadas da TV Com. Foi interessante observar as sinuosas fronteiras entre o jurídico e o político na questão que envolve a CPMI de Carlinhos Cachoeira.  A tese que estava em discussão foi a decisão do ministro Celso de Mello conferindo ao Cachoeira a faculdade de não depor antes de conhecer os conteúdos das acusações contra si que constam do inquérito da PF.
Embora considere técnicamente correta a decisão do ministro, percebi que muitas vezes a técnica processual está completamente desligada da realidade política e isso gera um conflito entre o que poderiamos chamar de processo político e processo jurídico. Não há dúvida de que o alcance desta CPMI pode ser da maior envergadura para a sociedade brasileira . Pela natureza das conexões entre Cachoeira e uma ramificação que envolve praticamente funcionários e políticos na esfera dos três poderes da República. E vai além, expondo perigosas e preocupantes relações entre a contravenção e a imprensa assim como com o setor empresarial. Esta radiografia de como a corrupção constrói seus tentáculos é uma oportunidade para entender este fenômeno que está a séculos instalado no DNA de nosso Estado, desde Pero Vaz de Caminha.
Ou seja, esta seria uma ocasião impar para a sociedade brasileira conhecer, identificar e encontrar de vez caminhos que regulem de maneira mais racional as relações entre o que é público e o que é privado. Entre a legalidade e a ética da administração pública e o crime.
No entanto, há um dado que me preocupa tristemente: a pesquisa de opinião feita durante o programa apontou que 93% das pessoas que responderam a pesquisa não acreditam que a CPMI vá dar resultados concretos para o que foi convocada.
Lamentável ver que a sociedade brasileira não acredita nos próprios instrumentos de investigação e de combate à corrupção desenfreada que se ramifica de forma cancerígena na estrutura do Estado brasileiro. É claro que isso se deve à qualidade de muitos dos nossos políticos. Mas me preocupa o fato de que a sociedade está, por assim dizer, desacreditando na possibilidade de mudança efetiva.
Isso é pior do que a corrupção em si mesma. Ou a sociedade brasileira se revolta contra a cultura do "deixar estar que não vai resolver nada" ou o futuro de nosso país estará inequivocamente destinado a ser desastroso. Um futuro onde os membros de nossas instituições republicanas viverão um "faz-de-conta" vergonhoso e a sociedade estará entregue à uma lei de sobrevivência altamente desigual e onde sobreviverão apenas os espertos!
É hora de nosso povo reagir contra este estado de coisas. É preciso acreditar em mudança! E mais que isso: é preciso contribuir efetivamente para que ela aconteça!

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