Senador Demóstenes: capturado pela própria sombra!
Se Carl Jung fosse vivo, certamente estaria se deleitando com mais uma evidência de seus estudos psicanalíticos. Explico: suas formulações sobre luz e sombra na construção das personalidades demonstram como certas pessoas que não experimentam um adequado processo de auto-consciência podem ser destruidas pela sua própria sombra.
O senador Demóstenes Torres é um desses personagens que sucumbiu à sua própria sombra. Considerado um dos mais vibrantes oradores contra a corrupção no Senado, catando agulhas no palheiro - em defesa da moralidade pública - e criminalizando movimentos sociais, Demóstenes alçou o posto de representante máximo da direita moralista (aqui distinguo moralista de moral) sempre sob flashes da mídia para aqual exibia sempre um rosto incompassivo e incorruptível.
Coitado do senador. A sombra se revoltou contra ele e resolveu destruí-lo: foi pego com a mão na botija, comprometido com um conhecido meliante do mundo do jogo, da violência e da corrupção.
Voltando a Jung, eu diria que a sombra de Demóstenes cansou de ouvir ele destruí-la verbalmente e racionalmente. Embora parte dele - e todos nós, lembrem-se, temos nossas sombras - ele nunca dialogou com ela. Quando a sombra é rejeitada sem nenhum processo de diálogo ou mesmo aceitação dela como limite de nossa própria personalidade, ela costuma agir e destruir seus senhores. Isso tem acontecido ao longo da história com personalidades - geralmente públicas - que assumem uma máscara (no sentido psicanalítico do termo) associada somente ao bem ou à uma rígida moralidade. Grandes nomes da Religião, da Política, das Finanças, entre outros famosos e famosas, tem sido traídos quando menos esperam pelas próprias sombras que tanto rejeitam no nível da racionalidade discursiva. Moralistas costumam sofrer mais fortemente a destruição de seus perfis públicos por parte de suas sombras revoltadas pela não aceitação delas em sua psiquê.
O senador agora deve estar experimentando vergonha e isso vai lhe custar a saúde emocional - embora ainda continue resistindo bravamente a admitir que o seu segredo foi revelado. Não poderá mais elevar a sua voz como fazia antigamente. Foi traído por sua própria sombra que cansou de não ser reconhecida.
Fica a lição para as pessoas que constróem suas imagens (artística, política, religiosa, etc) em cima de discursos que eu chamaria de totalitários: irreprováveis, ilibados, perfeitos, moralistas,... A empafia discursiva que rejeita a convivência entre luz e sombra dentro de nossa psiquê pode nos levar a tombos vergonhosos.
Fica a lição senador Demóstenes. Uma pausa para a sua própria reflexão!
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