80 anos de voto feminino. E a dignidade? Como anda?

Hoje se comemora 80 anos da emancipação política das mulheres brasileiras através do acesso ao voto. Foi uma luta ferrenha contra o preconceito e que custou tanto às muitas corajosas mulheres que, na década de 30 ousaram enfrentar a cultura de predominância machista, lideradas por uma nordestina chamada Celina Guimarães Viana que pediu autorização judicial para votar e assim foi autorizada com base na Constituição Federal. Daí se espalhou um movimento que culminou com a inclusão do direito de voto às mulheres em 1932.
O Brasil acaba de viver a experiência de ter uma mulher como sua Presidenta (com o perdão aqui aos linguistas...). Dilma representou um importante passo na superação das discriminações contra a mulher e é, sem sombra de dúvidas, uma grande conquista para a sociedade brasileira.
Mas a minha pergunta é: até quando o que as mulheres tem conseguido no plano legal será efetivo em todas as esferas da vida social? Fico estarrecido com as estatísticas de violência contra as mulheres em nosso país. Mesmo com o advento da Lei Maria da Penha - outra conquista de veio legal - continuamos a assistir uma escalada assustadora de assassinatos de mulheres. Nesta semana, só na Paraíba - a título de exemplo - tivemos 4 assassinatos violentos de mulheres com requintes de perversidade. Não posso ficar calado diante de fatos que revelam uma doença social que precisa ser enfrentada com rigor pelo Poder Público. Nenhuma pessoa de bom senso pode se acomodar diante dessa barbárie que parece fazer parte de um cotidiano macabro de uma sociedade que se diz emergente dentro do cenário internacional.
Se por um lado celebramos o advento da igualdade política das mulheres na história do Brasil, por outro, deveríamos sentir vergonha de ainda sermos um país que parece encarar a violência contra as mulheres como ingrediente normal de nosso cotidiano.
Eu sonho com um país que se orgulhe de dizer que seus cidadãos e cidadãs tem a garantia de seus direitos mais fundamentais. Eu sonho com um país em que nossas mulheres não precisem mendigar a igualdade dos direitos, não em termos de lei positiva, mas em eficácia.
A Igreja tem uma responsabilidade enorme na formação de seus fiéis e deve assumir publicamente a defesa de uma sociedade em que os direitos não venham ser mediados desigualmente por questões de gênero. Enquanto neste país ainda se matar mulheres violentamente e se permanecer impune por ineficiência do poder público, não me sentirei parte de uma sociedade emergente. Uma sociedade economicamente bem sucedida será vergonhosamente pobre quando suas mulheres não forem respeitadas no Direito e na Vida!

Comentários

Andréia Silva disse…
D. Francisco, o sentimento que tenho como mulher e eleitora é que temos tantas possibilidades e ferramentas para mudanças e afirmação de direitos, que são muito importantes, mas não conseguimos mudar a mentalidade, consciência e as atitudes das pessoas. Uma pena que os anos passem, as mudanças possam ocorrer e não temos pessoas suficientes para implementar essas mudanças e mudar o modelo de sociedade que temos.

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