Política e Polícia: uma equação a se resolver

Inglaterra, 2011. Ruas ocupadas por uma massa dominada pelo ódio desafiando a polícia, depredando bens, casas e destruindo tudo o que vê pela frente.
Isso podia muito bem ser uma cena de filme de ficção sobre algum vírus alienígena dominando as pessoas, como uma ação arquitetada por alienígenas de inteligência superior, desejosos de dominar a Terra.
Infelizmente a ficção não é mais ficção: é a pura realidade! Parece uma repetição dos distúrbios de rua que sacudiram Paris há um tempo atrás ou então a Atenas de até agora há pouco, com uma multidão na rua desafiando a ordem. Para além da constatação dos fatos, tenho visto diferentes percepções do fenômeno que me chamam a atenção. A quase totalidade deles justifica a explosão de violência como uma ação arquitetada por grupos criminosos que se aproveitaram de um fato isolado e até certo ponto rotineiro no dia a dia da capital inglesa: a abordagem policial infeliz a um imigrante.

O governo, pego de surpresa, buscou agir dentro da estratégia de conter a revolta pela via da segurança e, nesse sentido, agiu corretamente. Preservar a paz e garantir a integridade física das pessoas e das propriedades. Multiplicou a força de segurança nas ruas e prendeu milhares de suspeitos. Em suma, está trazendo de volta a ordem pública.

Normalmente, movimentos dessa ordem - coletiva - necessitam apenas de um evento que sirva como estopim para uma reação em cadeia, capturando sentimentos de revolta e geralmente se destinando a agredir o status quo.

Não faltaram expressões na mídia atribuindo a responsabilidade a gangues criminosas, a drogados e desocupados e, sutilmente insinuações racistas contra os imigrantes.

Talvez este seja o caminho mais fácil de enfrentar a equação. O mais difícil, no entanto, não perguntar quem é o responsável por estas manifestações agressivas. O mais importante é perguntar o porquê.

E aqui estão talvez algumas razões. O desemprego entre jovens é o mais alto em vinte anos. A política de segurança social no Reino Unido tem sofrido cortes e mais cortes dentro da política conservadora que tem acompanhado indiscriminadamente os governos trabalhistas e conservadores, como se não existisse real diferença entre eles.

Não é de hoje que se joga sobre os imigrantes - seja no Reino Unido como na Europa como um todo - a culpa pelo empobrecimento dos países do Norte. Muito mais perverso do que a Guerra Fria dos anos 70, hoje temos um tipo de conflito que expõe com todas as cores um certo xenofobismo político e religioso. O episódio das torres gêmeas passou a justificar o preconceito contra tudo que pareça estrangeiro.

Enquanto o Reino Unido se aliou à saga bushiana de gastar bilhões de dólares para caçar um homem, gastando ele mesmo bilhões de libras para manter tropas nos fronts de conflito a milhares de quilômetros de suas fronteiras, os cidadãos mais pobres e os imigrantes sofreram as consequências de uma política de redução de garantias sociais e uma crise econômica na qual ainda patinam.

O conformismo - mesmo em uma sociedade baseada em valores bem rígidos de educação e diplomacia - tem limites. Evidente que não podemos compactuar com atos de vandalismo e o estado de direito e as garantias individuais devem ser preservados. No entanto, a forma de enfrentá-los pode ser bem mais inteligente se se entender que direitos individuais e coletivos são também resultado de um modelo econômico que não crie desemprego, falta de perspectiva e queda de autoestima da juventude.



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