Amy e a perversão da mídia

A morte de Amy Winehouse certamente levanta algumas questões sobre como se trata os artistas e as celebridades no mundo. A jovem estrela britânica certamente sucumbiu ao peso da fama e hoje os que quase canonizam a pop star foram os mesmos que não tiveram nenhuma misericórdia com seus contínuos tropeços por causa da fuga que ela encontrava na dependência química.

Minha crítica à mídia não se dá no campo da censura ao direito de informar ou retratar a realidade. Se dá no campo da ética e do respeito à dignidade humana. Amy sempre pediu socorro ao mundo através de suas músicas. Mas ninguém foi capaz de ouvir seu clamor. Pelo contrário, usufruíram da sua genialidade e a fizeram chegar num pedestal onde tinha que se sentir estrela e não uma mulher comum, com seus sonhos, suas paixões e suas depressões.

Quando a pulsação de sua baixa estima se tornava incontrolável, explodia incontrolavelmente em aparições públicas que a jogavam ainda mais para o fundo do poço. Nestes infelizes momentos, a mídia a explorou como pode. Perde-se a conta de quantas vezes a imagem de uma jovem mulher bêbada e agressiva foi capa de jornais e imagem pública de televisões. E isso deu dinheiro. Agora, como expressão de culpa, a mídia comete a desfaçatez de expor a dor de sua família - antes ninguém fazia isso - para afirmar que ela era uma boa menina, de coração puro e tantos outros atributos que não importavam antes.

Essa é apenas mais uma faceta que se repete em torno de pop stars. Assim foi com Michael Jackson, Elvis Presley, Marilyn Monroe, Kurt Cobain, entre tantos outros...

Tenho absoluta certeza de que Amy afirmaria o que Kurt Cobain certa vez disse: '' ... Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo ... '' Aqui no Brasil, quem não se lembra de Cássia Eler? Talvez ela tenha sido a nossa Amy Winehouse. Sua arte era um grito de socorro, profundo e cheio de uma vontade de viver e amar.

Infelizmente a mídia trabalha com categorias muito diferentes: imagem, glamour e lucro. E o faz na fama ou na desgraça desde que o lucro continue.

Meus profundos sentimentos por Amy, cuja vida e linguagem só foi entendida por quem estava próximo dela ou quem conseguia ler os seus olhos. Que Deus a acolha nos seus braços misericordiosos e que ela encontre a paz que sempre buscou mas que o mundo não pode lhe dar. Amy, encante os céus com seus dons. Lá onde ninguém vai explorar a sua imagem. Rest in Peace Amy!

Comentários

Fabio disse…
Belo texto meu bispo! Posso publicá-lo?
Anônimo disse…
Caro Xico,
Essa reflexão é um bálsamo para todos nós que lutamos pela dignidade humana. Enquanto a ideologia da busca desenfreada pelo lucro dominar nossa sociedade ocidental novas Amies surgirão. Teu texto é um grito profético, como profética deve ser sempre a voz da Igreja.
Anivaldo Padilha
Xico Esvael disse…
Caro xará,

Compartilho de suas reflexões, acrescentando que a mídia amplifica a crueldade típica de uma sociedade hipócrita e autofágica, que se alimenta constantemente das desgraças produzidas por ela mesma. Se alguns mais próximos dela, tivessem ouvido um de seus apelos: When will we get the time to be just just friends? Talvez ela não precisasse terminar assim.

Xico Esvael
Silvio Freitas disse…
Bela reflexão Dom,

Realmente, precisamos refletir criticamente sobre a enxorada de "informações" que recebemos hoje de nossa mídia, discernir sobre as motivações de uma imprensa preocupada unicamente com o "furo" jornalístico em detrimento dos sentimentos, dores e tragédias pessoais. Deus tenha misericórdia de nós!
Silvio

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