Reflexões sobre Dar-es-Salaam
Em recente palestra elaborada pelo Rev. Dr. Carlos Calvani, a qual tive a honra de apresentá-la em Berkeley, diante de uma platéia de episcopais dos EUA, afirmei que a Comunhão Anglicana necessitava re-descobrir o autêntico sentido de comunhão e superar de vez a ilusão de que a racionalidade de certos "instrumentos textuais de consenso" possam ser a garantia da unidade desta parte da Igreja de Cristo.
Mesmo com uma audiência bastante heterogênea teologicamente, a reação foi de completa empatia com o pressuposto de que comunhão se faz com sentimento, mais na dimensão horizontal do que na dimensão vertical de verdades construidas pela razão.
Lamentavelmente essa dicotomia saiu vencedora na reunião dos Primazes da Igreja Anglicana, em Dar-es-Salaam, semana passada. O Documento final do Encontro simplesmente submete uma importante parte da Comunhão Anglicana a um escrutínio que me lembra os famosos Editos Papais da Idade Média, contra aqueles que ousavam pensar diferente. Os liberais, como são comumente chamados, tem data fixa para se retratar formalmente de suas ousadias pastorais.
Costumeiramente utilizo esse espaço aqui para análises políticas e de costumes. Raramente uso para exprimir opiniões especificamente teológicas. No entanto, tomo a liberdade de expressar, no início da quadra litúrgica quaresmal, minha profunda tristeza por tamanho retrocesso no que eu chamo de jornada hermenêutica da Igreja. Afirmo peremptoriamente aqui a exclusiva pessoalidade de minha opinião, deslocada de qualquer papel institucional que eu represente. É a opinião de um teólogo que teima em acreditar que o Evangelho se faz com inclusão e acolhimento de todas as pessoas.
Ao invés de os conservadores se preocuparem com o que realmente desqualifica o nosso mundo tais como a pobreza, a guerra, a agressão ao meio ambiente, entre tantas outras urgentes pautas, gastaram verbo e verba para se peocupar com aqueles seus pares que avançaram na compreensão de que as pessoas de orientação sexual diferente da heterossexualidade são iguais diante de Deus e portanto também iguais no serviço ao Deus que elas amam.
Tudo isso porque a Igreja Episcopal dos EUA e a Igreja Anglicana do Canadá resolveram avançar na maneira com que os homossexuais são tratados dentro de suas respectivas jurisdições.
Um futuro incerto se avizinha para a Comunhão Anglicana. E é triste perceber que o clima de confronto chega agora na fronteira da disciplina eclesiástica, o que envolve poder e um uso deste pouco adequado para a manutenção da "neurose da correção discursiva da fé".
Como comentei em outro lugar, a comunhão está quebrada. O fato de alguns conservadores se recusarem a participar da mesa eucarística com seus iguais é um sintoma verdadeiramente irreversível de que a Comunhão Anglicana agoniza.
Infelizmente alguns dos Primazes - fundamentalistas e machistas - inverteram a agenda da Igreja: do serviço ao mundo para um foco negativo sobre sexualidade. O Mundo espera mais da Igreja do que juízos de valor ou corretas formulações dogmáticas. Isso é parte da Idade da Razão, que se mostrou inócua no enfrentamento dos reais dilemas da humanidade!
Mesmo com uma audiência bastante heterogênea teologicamente, a reação foi de completa empatia com o pressuposto de que comunhão se faz com sentimento, mais na dimensão horizontal do que na dimensão vertical de verdades construidas pela razão.
Lamentavelmente essa dicotomia saiu vencedora na reunião dos Primazes da Igreja Anglicana, em Dar-es-Salaam, semana passada. O Documento final do Encontro simplesmente submete uma importante parte da Comunhão Anglicana a um escrutínio que me lembra os famosos Editos Papais da Idade Média, contra aqueles que ousavam pensar diferente. Os liberais, como são comumente chamados, tem data fixa para se retratar formalmente de suas ousadias pastorais.
Costumeiramente utilizo esse espaço aqui para análises políticas e de costumes. Raramente uso para exprimir opiniões especificamente teológicas. No entanto, tomo a liberdade de expressar, no início da quadra litúrgica quaresmal, minha profunda tristeza por tamanho retrocesso no que eu chamo de jornada hermenêutica da Igreja. Afirmo peremptoriamente aqui a exclusiva pessoalidade de minha opinião, deslocada de qualquer papel institucional que eu represente. É a opinião de um teólogo que teima em acreditar que o Evangelho se faz com inclusão e acolhimento de todas as pessoas.
Ao invés de os conservadores se preocuparem com o que realmente desqualifica o nosso mundo tais como a pobreza, a guerra, a agressão ao meio ambiente, entre tantas outras urgentes pautas, gastaram verbo e verba para se peocupar com aqueles seus pares que avançaram na compreensão de que as pessoas de orientação sexual diferente da heterossexualidade são iguais diante de Deus e portanto também iguais no serviço ao Deus que elas amam.
Tudo isso porque a Igreja Episcopal dos EUA e a Igreja Anglicana do Canadá resolveram avançar na maneira com que os homossexuais são tratados dentro de suas respectivas jurisdições.
Um futuro incerto se avizinha para a Comunhão Anglicana. E é triste perceber que o clima de confronto chega agora na fronteira da disciplina eclesiástica, o que envolve poder e um uso deste pouco adequado para a manutenção da "neurose da correção discursiva da fé".
Como comentei em outro lugar, a comunhão está quebrada. O fato de alguns conservadores se recusarem a participar da mesa eucarística com seus iguais é um sintoma verdadeiramente irreversível de que a Comunhão Anglicana agoniza.
Infelizmente alguns dos Primazes - fundamentalistas e machistas - inverteram a agenda da Igreja: do serviço ao mundo para um foco negativo sobre sexualidade. O Mundo espera mais da Igreja do que juízos de valor ou corretas formulações dogmáticas. Isso é parte da Idade da Razão, que se mostrou inócua no enfrentamento dos reais dilemas da humanidade!
Comentários
Excelente texto. Importa-se se eu o compartilhasse com alguns amigos?
A paz de Cristo!
En estos momento dificiles, nos sentimos muy fortelicidos por las palabras de acompanamiento y solidaridad por parte de uno de nuestros companeros de la IAEB. Gracias por sus palabras!
Um abraço
Recebi já duas versões dele, traduzidas, uma um pouco rudimentar e outra mais elaborada.
Podes me passar os links das versões?
Abração
http://padremickey.blogspot.com/2007/02/reflexions-on-dar-es-salaam.html
Esses são dois blogs que postaram o texto melhor traduzido (e que eu revisei depois, embora em princípio tivessem achado que eu tinha traduzido). Aparentemente, alguém que sabia espanhol ou português traduziu o texto originalmente.
O outro foi algum tradutor automático e estava muito mais fraco.
Paz!