O caso Saddam: pressa e catarse
A execução de Saddam Hussein se constituiu numa evidência de como a arrogância dos poderosos pode ser canalizada através de um exibicionismo exacerbado e grotesco.
Embora se saiba que Saddam Hussein tenha cometido crimes hediondos e que deveria ser responsabilizado e julgado por eles, o processo que o levou à forca foi viciado e conduzido segundo os interesses do invasor.
Aliás, a Anistia Internacional deixou claro desde o começo que a legitimidade da Corte e do Governo estava sob suspeição. A condenação e a rápida execução reuniram contornos de um casuismo que envergonham a sociedade internacional.
Somente os inimigos políticos de Saddam podem se considerar contemplados por esse processo. Dentre eles o mais realizado é, sem dúvida, George Bush.
Bush escolheu Saddam para derramar toda a sua ira e frustração pelos atentados de 11/9. Sem nenhuma comprovação de vínculo entre o ditador iraquiano e Bin Laden, Bush adicionou a mentira de que o Iraque produzia armas químicas em série. Daí para a invasão militar foi um pulo.
Destruição, morte, violação de direitos humanos, corrupção, entre tantos outros "desastres" da ação militar americana no Iraque parecem não sensibilizar mais ninguém. A prisão cinematográfica de Saddam, se constituiu numa manipulação da opinião pública como sintoma de que a ação militar estava alcançando os objetivos.
O processo que se sucedeu também alimentou o marketing do Governo Bush, sob a falsa impressão de que ao prisioneiro se estava dando uma formalidade processual válida.
Paralelo a esse "mis en scene", Bush acumulou frustração em cima de frustração, com uma campanha que expoe a fragilidade dos USA para enfrentar uma guerra não convencional.
Só a imolação de um bode expiatório poderia representar uma salvação de aparências. Era preciso uma catarse. E ela aconteceu na madrugada desse sábado. O mundo inteiro assitiu ao espetáculo funesto de um enforcamento. Mas Saddam não deixou que essa catarse fosse maior: enfrentou a morte com uma resignação religiosa e muito inteligente. Não deu a Bush o gosto de vê-lo aterrorizado, fragilizado, amendrotado diante de seus executores. A corda agora está pendente no pescoço do seu inimigo. Caberá a Bush livrar-se dela e convencer aos seus cidadãos de que vale a pena continuar perdendo seus filhos no Iraque. Convencer a opinião pública de que mais uma centena de bilhões de dólares transformarão o Iraque numa sucursal dos USA.
Essa pressa e essa catarse ainda vão custar caro ao Presidente Bush!
Embora se saiba que Saddam Hussein tenha cometido crimes hediondos e que deveria ser responsabilizado e julgado por eles, o processo que o levou à forca foi viciado e conduzido segundo os interesses do invasor.
Aliás, a Anistia Internacional deixou claro desde o começo que a legitimidade da Corte e do Governo estava sob suspeição. A condenação e a rápida execução reuniram contornos de um casuismo que envergonham a sociedade internacional.
Somente os inimigos políticos de Saddam podem se considerar contemplados por esse processo. Dentre eles o mais realizado é, sem dúvida, George Bush.
Bush escolheu Saddam para derramar toda a sua ira e frustração pelos atentados de 11/9. Sem nenhuma comprovação de vínculo entre o ditador iraquiano e Bin Laden, Bush adicionou a mentira de que o Iraque produzia armas químicas em série. Daí para a invasão militar foi um pulo.
Destruição, morte, violação de direitos humanos, corrupção, entre tantos outros "desastres" da ação militar americana no Iraque parecem não sensibilizar mais ninguém. A prisão cinematográfica de Saddam, se constituiu numa manipulação da opinião pública como sintoma de que a ação militar estava alcançando os objetivos.
O processo que se sucedeu também alimentou o marketing do Governo Bush, sob a falsa impressão de que ao prisioneiro se estava dando uma formalidade processual válida.
Paralelo a esse "mis en scene", Bush acumulou frustração em cima de frustração, com uma campanha que expoe a fragilidade dos USA para enfrentar uma guerra não convencional.
Só a imolação de um bode expiatório poderia representar uma salvação de aparências. Era preciso uma catarse. E ela aconteceu na madrugada desse sábado. O mundo inteiro assitiu ao espetáculo funesto de um enforcamento. Mas Saddam não deixou que essa catarse fosse maior: enfrentou a morte com uma resignação religiosa e muito inteligente. Não deu a Bush o gosto de vê-lo aterrorizado, fragilizado, amendrotado diante de seus executores. A corda agora está pendente no pescoço do seu inimigo. Caberá a Bush livrar-se dela e convencer aos seus cidadãos de que vale a pena continuar perdendo seus filhos no Iraque. Convencer a opinião pública de que mais uma centena de bilhões de dólares transformarão o Iraque numa sucursal dos USA.
Essa pressa e essa catarse ainda vão custar caro ao Presidente Bush!
Comentários
De fato, é um bode espiatório, não deram o direito de um julgamento digno e justo. Brutalidade com mais brutalidade, castração de direitos de um lado, exacerbação de direitos de outro, é tornar a vítima algoz e vice-versa. assim quem age com violência, acaba se tornando vítima da própria...um dia...parece o caso...mas como o sr. entreviu,talvez não só o Bush pagará caro, mas a Humanidade inteira, será?
Faz tempo que não passo aqui... Escrevi um post falando em religião e lembrei de você, um dos 4 cristãos que mais admiro!
Agora que estou aqui vejo como seus textos fazem falta!
Acompanhei os últimos dias de Sadam bem de longe, mas tenho a impressão de que nossa espécie passa pela fase da negação: não queremos aceitar nossa parcela de responsabilidade e tentamos eleger Judas a imolar na ilusão de que eles são a causa do nosso mundo quando são consequência da nossa inércia.
E, claro, interessa a gente como os articulistas de Bush (tenho a impressão de que ele é um tipo de Mili Vanili da política) que as pessoas se voltem contra estes demônios imaginários.
Bem, é um prazer lê-lo novamente!