Lições de Barra do Ribeiro

Primeiramente quero expressar minha discordância quanto à equivocada forma de protesto que levou à destruição os laboratórios do Horto de Barra do Ribeiro, na última quarta-feira. Mas com igual veemencia expresso minha indignação com a parcialidade com que a mídia trata a questão dos conflitos agrários. O estado de Direito deve ser respeitado como garantia de regras civilizadas entre os segmentos componentes de uma sociedade políticamente organizada, sendo a pressão social legitima em defesa de direitos fundamentais que estejam sendo desrespeitados pelos agentes públicos e privados.
Ao cobrir a destruição dos laboratórios de Barra do Ribeiro, a grande mídia mostrou o que quiz e escondeu o que quiz também. Primeiramente esqueceu de falar do perfil político da Aracruz, marcado por ações criminosas contra indígenas e quilombolas em seus centros espalhados pelo país, seja na Bahia, seja no Espírito Santo, seja no Rio Grande do Sul.
Esqueceu de mostrar o favorecimento econômico que esta empresa tem recebido do Governo federal e do Governo estadual para a consecução de seus projetos de reflorestamento, a juros subsidiados pelo BNDES.
Esqueceu de mostrar que o projeto de reflorestamento compromete o equilibrio hídrico do País, através da plantação de eucaliptos, causando desertificação e desequilibrio ambiental.
Esqueceu de mostrar que o tão falado compromisso ambiental da empresa não passa de propaganda enganosa que esconde a apropriação de grandes áreas de terras que, adequadas a um projeto de produção de alimentos, são transformadas em áreas de produção de celulose.
Mas o que interessa sim à grande mídia é criminalizar os movimentos sociais. Não é à toa que em meio aos protestos da Via Campesina se publicou uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional de Agricultura - representante máxima do agronegócio nesse País - dando conta da reprovação pela opinião pública brasileira com relação ao MST.
Espero que as lideranças do Movimento dos sem Terra não engulam essa provocação. Não admitam que se jogue a opinião pública contra um Movimento que tem em seu curriculo uma marca de luta pela tão sonhada Reforma Agrária.
É preciso mostrar a sociedade brasileira que os criminosos, como assim definiu o Relatório da CPI da Terra elaborado por representantes da UDR, não estão nos acampamnetos espalhados pelo País á espera das medidas efetivas do Governo. Estão sim do outro lado da cerca, gerindo seus milhões, suas máquinas e suas ações no mercado mobiliário.
A estratégia do MST precisa ser a de pressionar o Governo Federal, os Governos Estaduais, os órgãos de decisão de políticas de financiamento agrário, para que cumpram os compromissos assumidos com o Movimento. Nese sentido, a fala do Ministro Rosseto contra o ato não se limita apenas a questão de forma do protesto, mas um sintoma da falta de capital politico para avançar na política fundiária.
Enfrentar diretamente os senhores do agronegócio privado - como depredações e destruição de patrimônio privado - pode se constituir em uma armadilha perigosa que venha justificar ações de "legítima defesa" alegada e que custem vidas que não desejamos mais perder.
É preciso se construir uma estratégia pedagógica para mostrar ao povo brasileiro - que é sensivel aos problemas sociais - o verdadeiro retrato da questão da Terra.

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