Eleição Presidencial: os desafios da estratégia do Presidente (II)

Entre os aliados do candidato Geral do Alckmin se encontra um segmento que não pode ser desprezado pela sua força. A política brasileira acostumou-se nos últimos anos a valorizar os votos dos religiosos. Foi assim no famoso "Centrão" dos tempos de Sarney, composto pela chamada bancada evangélica que ficou caracterizada por famosos acordos políticos no Congresso. Não é de hoje que algumas expressões da hierarquia católica romana se manifestaram em pleitos, emitindo julgamentos políticos sempre embasados em convicções religiosas ou ausência delas, nos candidatos.
Quem não se lembra da famosa interpelação a FHC, num debate, onde a resposta a respeito de sua crença em Deus custou-lhe muitos votos?
Quem não se lembra da campanha feita contra Lula, em alguns meios evangélicos, na primeira eleição de 1989, a respeito de ser comunista e ateu?
Recentemente a CNBB, através de representantes da hierarquia católico-romana, se manifestou contra a política econômica do Governo Lula. As reações vieram a seguir e até a FIESP manifestou seu apreço pela correção do "carão" passado no Presidente.
A campanha de Lula em 2002, através da aliança com o PL, construiu uma base política nada desprezível: a força da Igreja Universal.
Por todas essas evidências é importante destacar a imagem do Governador Alckmin: católico praticante e com laços afetivos com uma forte fraternidade católica conservadora. Dos dois candidatos que até aqui estão na ponta das pesquisas, com certeza o Presidente não é conhecido por uma prática religiosa.
E, além de não ter esse perfil, o Presidente tem decepcionado segmentos progressistas da Igreja Católica Romana, por sua política econômica que privilegia questões macro-econômicas em detrimento de investimentos sociais.
Com certeza, seria um instrumento importante de avaliação estratégica se fazer uma pesquisa junto ao eleitorado de corte religioso e praticante para se avaliar como andam as preferências, pois elas podem ser importantes para uma estratégia política mais eficiente.
Os católicos e evangélicos conservadores tendem a apoiar candidatos que sejam conhecidos por sua imagem pública ligada a valores como família e fé. É uma forma quase inconsciente de projeção externa (imagem) que esconde, na verdade, uma opção política de direita.
O Presidente terá a seu favor o apoio dos católicos e evangélicos progressistas na medida em que puder sinalizar com mudanças mais radicais em questões sociais, mais dirigidas aos setores excluídos. Se não fizer isso, corre o risco de perder um alicerce histórico da esquerda.
Depende só dele recuperar o terreno que tem perdido nesse campo. Como tenho dito, ele tem as chaves do cofre e a caneta.
Por outro lado, Alckmin vai construir uma base política junto da Igreja conservadora. Não foi à toa que suas primeiras palavras como candidato foram: " a Pátria são as famílias, a religião, os costumes e a tradição". Há uma forte aliança entre empresários e a Igreja conservadora, sobejamente provado na História. Alckmin, o bom católico, de família estável e bom moço constitui uma imagem bem forte. Isso é indicativo de que Lula vai precisar manejar muito bem sua estratégia política para não perder o apoio de poderosas forças que atuam em todo o lugar e em todas as consciências!

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