Severinos, picadeiros e decadência

As cenas da última quarta-feira no plenário da Câmara são um atestado definitivo da falência do modelo político atual do Estado brasileiro. Vimos cenas dignas de um autêntico picadeiro, onde os personagens protagonizaram com toda crueza possivel a ruptura dos limites da institucionalidade. Um Presidente de uma casa legislativa faz um discurso pinoquiano, encerrando uma curta carreira construida com o uso da esperteza política, e uma demagogia basista insonsistente. Exposto à opinião pública pela prática tão usual na política brasileira de favor financeiro em troca de contratos, o ex-Presidente e deputado ainda tentou passar à história como vítima. Mas não colou.
As galerias nos lembraram os tempos das claques organizadas de estudantes defendendo a ampliação da cidadania. As cenas protagonizadas pelos seguranças da Câmara nos lembraram, da mesma forma, o período do regime militar. Do bate-boca ao confronto físico, tudo que era possivel ocorrer num momento em que as pessoas perdem a razão e fazem desabrochar o que há de mais atávico - para usar um termo resgatado recentemente por um ex-deputado - revelando em que estágio estamos em termos de não-institucionalidade quase absoluta.
Até quando iremos assistir cenas como essas? Isso é deprimente, patético, circense até! Mas, como se diz, depois que se chega ao fundo do poço, só tem uma saída: morrer ou sair dele. O problema é que alternativa temos de saída. Ainda não se vê claramente qual. A sociedade brasileira está vivendo um momento de visibilização de todas as suas sombras. Na linguagem analítica, costuma-se dizer que é o momento do "destampamento" das verdades recônditas, inconscientes. É um momento muito doloroso, que afeta nossa auto-imagem e nos deprime.
Resta-nos a esperança de que o estágio seguinte venha. Dialogar com essa "sombra", assumi-la como nossa e tratar de estabelecer novos parâmetros. Issso leva tempo. Só espero que esse tempo não nos leve ao que mais me assusta: a completa anomia.

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