Blindagem: até quando?

As recentes pesquisas de opinião que apontam a popularidade do Presidente Lula, a despeito das denúncias que envolvem lideranças do Governo e do Partido, parecem sinalizar em uma direção que precisa ser considerada com muita atenção.
Significa que a opinião pública continua acreditando na capacidade do Presidente de levar o País adiante na busca das transformações que ele mesmo anunciou, tanto como candidato como eleito, nos diversos momentos de sua trajetória política. Significa também a percepção de que o Presidente não pode ser responsabilizado diretamente por desmandos de pessoas do círculo do poder que o cercam e sobre cujas agendas estão colocadas aspirações mais pessoais que nacionais.
No entanto essa "blindagem", como é chamada pelos analistas, não é garantida ad eterno se, daqui pra frente não houver mudança de rumos nas políticas públicas. O recente encontro que teve com representantes dos movimentos sociais, autores da chamada "Carta ao Povo Brasileiro", demonstrou que os movimentos exigem do Presidente a doção de medidas urgentes na direção da moralização do aparelho de Estado e da mudança de rumos na qualidade de suas alianças políticas. Reivindicaram também a inversão do modelo econômico baseado nas premissas de juros altos, de superávit fiscal e priorização do mercado externo.
Resta ao Presidente ouvir este apelo. Num momento em que segmentos conservadores vêem a oportunidade de enfraquecer o Presidente, isolando-o para controlá-lo depois, os movimentos sociais se fizeram presentes, deixando bem claro que estão na defesa da governabilidade do País. Mas essa governabilidade não pode ser garantida a qualquer custo. Apurar as acusações de corrupção, punir os responsáveis de onde vierem constituem elementos essenciais para o inicio de uma nova fase do Governo.
As medidas tomadas a partir do encontro com as lideranças não tem apontado na direção das inversões políticas propostas. Afora os afastamentos dentro do Partido e do Governo de pessoas acusadas, praticamente se está levando a termo uma reforma ministerial a conta-gotas sem garantia de mudança de rumos. Na política econômica não há sintomas de nenhuma mudança significativa. Inclusive, fala-se na adoção de um programa de "déficit zero", com forte conteúdo fiscal, que representaria ainda mais um passo na direção contrária do investimento e das prioridades sociais.
Desse jeito, a blindagem está em perigo. Não por vinculação pessoal às acusações de corrupção, mas por ignorar o apoio e o apelo dos movimentos sociais organizados.
O Presidente não pode voltar as costas a quem confia na sua capacidade de mudar os rumos da política brasileira!

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